Programa para la Conservación de los Murciélagos de Brasil (PCMBr).
Autores de la propuesta: Luciana Moraes Costa, Elizabete Captivo Lourenço, Carlos Eduardo Lustosa Esbérard, Helena Godoy Bergallo.
Os morcegos são satisfatoriamente estudados no Estado do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil (Bergallo et al., 2003; Peracchi & Nogueira, 2010; Stevens, 2013). A Ilha Grande é um dos locais com o maior número de registros de espécies de morcegos (Mammalia, Chiroptera) no estado do Rio de Janeiro (Costa et al., 2021a). A confirmação de que 37 espécies de morcegos ocorrem na Ilha Grande (Costa et al., 2021a, 2021b) implica que a ilha abriga 19,9% das espécies de morcegos conhecidas no Brasil (Garbino et al., 2024), 37,8% das espécies da Mata Atlântica (Muylaert et al., 2017) e 46,8% das espécies conhecidas no Estado do Rio de Janeiro (Peracchi & Nogueira, 2010; Moratelli et al., 2011; Dias et al., 2013; Delciellos et al., 2018; Costa et al., 2021b). Estudos de monitoramento acústico na Ilha Grande registraram a primeira ocorrência de Promops no estado do Rio de Janeiro (Costa et al., 2021b). A Ilha Grande abriga grande abundância de espécies de diversas guildas tróficas, o que a torna de extrema importância para o equilíbrio ecológico e a preservação da biodiversidade local. Além disso, é importante destacar o registro de espécies ameaçadas de extinçãos, deficientes de dados e endêmicas da Mata Atlântica.
Conflitos entre humanos e morcegos são frequentemente relatados uma vez que esses mamíferos se abrigam em telhados e há ataques de Desmodus rotundus, que afetam não apenas animais, mas também, seres humanos. A Ilha Grande abriga alguns dos remanescentes mais bem preservados do bioma Mata Atlântica no Brasil e, junto com Paraty, foi reconhecida em 2019 como Patrimônio Mundial Cultural e Natural pela UNESCO.
A área é bem descrita no plano de manejo do Parque Estadual da Ilha Grande (INEA, 2013). Áreas protegidas foram estabelecidas em 156 km² (81% da superfície insular) dos 193 km² totais da Ilha Grande (Parque Estadual da Ilha Grande e Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul) na categoria de proteção integral. O clima é tropical, quente e úmido, com chuvas ao longo de todo o ano, mais concentradas no verão, sem estação seca. A variação na temperatura média ao longo do ano é baixa. Julho é o mês mais frio (20,2° C) e fevereiro, o mais quente (26,4° C). As florestas da Ilha Grande são classificadas como Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica) no Sistema de Classificação Brasileiro. Florestas densas secundárias em estágios intermediários e avançados de sucessão cobrem cerca de 80% da ilha. As áreas remanescentes são florestas em estágios iniciais de sucessão, vegetação costeira de restinga, vegetação em afloramentos rochosos e manguezais. A Ilha Grande contém alguns dos remanescentes mais bem conservados do bioma da Mata Atlântica no Brasil, sendo, portanto, considerada um santuário ecológico. Tombado como patrimônio estadual em 1987, integra a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, declarada pela UNESCO em 1992 e Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO em 05 de julho de 2019.
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ): Universidade localizada na cidade do Rio de Janeiro, sede do Laboratório de Ecología de Mamíferos e do Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável.
Laboratório de Ecologia de Mamíferos (LEMA): Laboratório localizado no Departamento de Ecologia da UERJ, coordenado pela Dra. Helena de Godoy Bergallo no qual desenvolve trabalhos nas áreas de ecologia de populações e comunidades de mamíferos, auxiliando nas pesquisas com morcegos.
Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADS): É vinculado à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da UERJ. Possui infraestrutura para receber pesquisadores, com alojamentos, salas de aula, laboratórios e outras facilidades como transporte e alimentação, na Ilha Grande.
Programa de Pesquisas em Biodiversidade da Mata Atlântica (PPBio Mata Atlântica): É uma Rede de Pesquisa, Monitoramento e Modelagem em Biodiversidade e Ecossistemas do Programa de Pesquisas em Biodiversidade na Mata Atlântica, financiado pelo CNPq. Atualmente quem coordena o Programa é a Dra. Helena de Godoy Bergallo, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Instituição Executora, sede da Rede)
Instituto Estadual do Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (INEA): É o órgão responsável pela gestão ambiental no estado do Rio de Janeiro, incluindo a administração das unidades de conservação na Ilha Grande. É responsável pela emissão de autorizações para atividades de coleta e pesquisa. Pode oferecer apoio logístico, incluindo alojamento, para pesquisadores que realizam pesquisas na Ilha Grande.
Projeto Morcegos na Praça (MnP): É um projeto de extensão da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ajuda a desmistificar os morcegos com educação ambiental e divulgação científica indo em ambientes públicos e escolas. Envolve a comunidade local e coleta dados durante as atividades que podem complementar em dados científicos.
Programa para a Conservação dos Morcegos Brasileiros (PCMBr): É uma iniciativa dedicada à preservação e estudo dos morcegos no Brasil e pode promover o conhecimento e a conservação desses mamíferos.
A Ilha Grande é um dos maiores santuários ecológicos da Mata Atlântica, e a conservação de seus ecossistemas é essencial para preservar a biodiversidade local. A educação ambiental é um pilar fundamental para sensibilizar a população e visitantes sobre a importância de preservar a Ilha Grande. A Ilha Grande possui uma riqueza biológica e ecológica única, e a pesquisa científica é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de conservação efetivas.
Recentemente, um artigo intitulado “Ações para conservação dos mamíferos no Parque Estadual da Ilha Grande – aproximando cientistas, instituições e sociedade” realizado por nossa equipe de pesquisa, foi publicado (Lourenço et al., 2023). Preparamos atividades dinâmicas para atender as diversas faixas etárias e diferentes públicos, adequadas tanto para ambientes formais, quanto não formais de ensino. As atividades seguiram as seguintes temáticas: diversidade de mamíferos da Ilha Grande; projetos realizados no local e sua importância; papel da ciência e do cientista; e importância das Unidades de Conservação na Ilha Grande. A equipe considera a necessidade de desenvolver maior integração com o público (moradores e visitantes) e divulgar conhecimentos que agreguem valor socioambiental e cultural.
Entre as atividades realizadas na Ilha Grande, destacam-se as promovidas pelo Projeto Morcegos na Praça (Vol. 15/Nº 1 2024, Boletín de la Red Latinoamericana y del Caribe para la Conservación de los Murciélagos) (Lourenço & Famadas, 2024).
Coordenada central: 23° 08′ 00″ S; 44° 10′ 00″O W; Superficie total: 193 ha.
Ilha Grande (23°05’ e 23°14’S - 44°05’e 44°23’W) está localizada no litoral sudoeste do estado do Rio de Janeiro, no município de Angra dos Reis e corresponde a um fragmento do maciço litorâneo da Serra do Mar que está inserida na Baía da Ilha Grande. É a terceira maior ilha do Brasil e a maior do estado do Rio de Janeiro. A distância mais curta até o continente é de aproximadamente 2 km.
FAMÍLIA FURIPTERIDAE
Furipterus horrens (Cuvier, 1828)
Foto: Roberto Leonan Morim Novaes
https://morcegosdobrasil.blogspot.com
Distribuição: A espécie ocorre do sul da Costa Rica ao Peru, Guianas, Trinidad e leste do Brasil. Sua localidade-tipo é o rio Mana na Guiana Francesa (Gardner, 2007). No Brasil, há registros para os estados do Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Paraíba, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Roraima, Santa Catarina, São Paulo, Tocantins (Bernard et al., 2023a). Está presente nos biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica (Bernard et al., 2023a).
Estado de conservação: Furipterus horrens está clasificada como Pouco Preocupante (LC) pela Red List of Threatened Species (IUCN, 2024). No Brasil está categorizada como Vulnerável (VU) pelo critério C2a(i) (MMA, 2022; Bernard et al., 2023a).
Comentários: Apesar de sua ampla distribuição, a espécie é raramente encontrada, pois depende de abrigos específicos, como cavernas, que são ambientes sensíveis e de distribuição geográfica limitada (Bernard et al., 2023a). A espécie enfrenta ameaças diretas, como mineração e turismo desordenado, além de ameaças indiretas, como o desmatamento (Bernard et al., 2023a). Alimentam-se de insetos aéreos (Reis & Gazarini, 2007). É uma espécie com elevada especificidade de habitat e é considerada incomum na maior parte das localidades onde foi registrada (Bredt et al., 1999; Sbragia & Cardoso, 2008; Silva et al., 2009; Bernard et al., 2023a). Na Ilha Grande, dois indivíduos foram capturados no interior de seu refúgio (Esbérard et al., 2006). Algumas ameaças sofridas pela espécie são mineração, uso recreativo das cavernas, vandalismo, desmatamento, manejo inadequado de florestas e o uso inadequado de pasta vampiricida para controle antirrábico (Bernard et al., 2023a). Existem lacunas no conhecimento sobre aspectos ecológicos, como o uso do habitat, dispersão e conectividade, além da escassez de dados populacionais devido à baixa captura da espécie na maioria dos inventários, dificultando a obtenção de informações mais detalhadas que exigem monitoramento a longo prazo (Bernard et al., 2023a).
FAMÍLIA PHYLLOSTOMIDAE
SUBFAMÍLIA LONCHOPHYLLINAE
Lonchophylla peracchii Dias, Esbérard e Moratelli, 2013
Foto: Roberto Leonan Morim Novaes
https://morcegosdobrasil.blogspot.com
Distribuição: Lonchophylla peracchii é uma espécie endêmica do Brasil com registros para os estados da Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo (Bernard et al., 2023b). É uma espécie considerada endêmica do Bioma da Mata Atlântica, além do Sistema Marinho-Costeiro (Bernard et al., 2023b). A localidade-tipo é descrita como próxima à Vila do Abraão (ca. 23°07’ S, 44°10’ W), Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro (Dias et al., 2013).
Estado de conservação: Lonchophylla peracchii está clasificada como Pouco Preocupante (LC) pela Red List of Threatened Species (IUCN, 2024). No Brasil está categorizada como Menos Preocupante (LC) (MMA, 2022; Bernard et al., 2023e).
Comentários: É uma espécie descrita recentemente como resultado de uma avaliação taxonômica de populações da Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro (Dias et al., 2013) que foram previamente atribuídas a Lonchophylla bokermanni ou erroneamente identificadas como Lonchophylla mordax (ver Peracchi & Nogueira, 2010). Assim como as outras espécies do gênero (Nogueira et al., 2007a), é considerada nectarívora.
SUBFAMÍLIA PHYLLOSTOMINAE
Tonatia bidens (Spix, 1823)
Foto: Roberto Leonan Morim Novaes
https://morcegosdobrasil.blogspot.com
Distribuição: Tonatia bidens ocorre desde o nordeste do Brasil até o Paraguai, Bolívia, Equador e norte da Argentina (Bernard et al., 2023c). No Brasil há registros para os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo, Tocantins (Bernard et al., 2023c). Está presente nos biomas Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal, além do Sistema Marinho-Costeiro (Bernard et al., 2023c).
Estado de conservação: Tonatia bidens está clasificada como Deficiente de Dados (DD) pela Red List of Threatened Species (IUCN, 2024). No Brasil está categorizada como Menos Preocupante (LC) (MMA, 2022; Bernard et al., 2023c).
Comentários: São raramente encontrados na natureza, sendo frequentemente consideradas espécies pouco comuns, por isso, sua biologia é pouco estudada, com informações limitadas e esparsas (Esbérard & Bergallo, 2004). Em um estudo de longa duração na Ilha Grande, 46 indivíduos foram registrados, sendo apenas 1,7% do total de capturas (Costa et al., 2021a). Sua dieta inclui uma ampla variedade de insetos, pequenos vertebrados, morcegos e possivelmente frutos (Nogueira et al., 2007b). Recentemente, foi registrado o consumo de musgo em uma ilha na cidade do Rio de Janeiro (Monumento Natural do Arquipélago das Ilhas Cagarras), sugerindo que a principal motivação desse comportamento seria a obtenção de água ou a busca por invertebrados, além disso, foi proposto que esse comportamento contribua para a dispersão do musgo (Luz et al., 2024).
FAMÍLIA VESPERTILIONIDAE
SUBFAMÍLIA MYOTINAE
Myotis izecksohni Moratelli, Peracchi, Dias & Oliveira, 2011
Foto: Roberto Leonan Morim Novaes
https://morcegosdobrasil.blogspot.com
Distribuição: Myotis izecksohni ocorre na Mata Atlântica, desde o sul de Minas Gerais no Brasil, até a província de Missiones, na Argentina (Bernard et al., 2023d). No Brasil, há registros para os estados de Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro (Bernard et al., 2023d). É uma espécie considerada endêmica do Bioma da Mata Atlântica (Bernard et al., 2023d).
Estado de conservação: Myotis izecksohni é clasificada como Deficiente de Dados (DD) pela Red List of Threatened Species (IUCN, 2024). No Brasil está categorizada como Menos Preocupante (LC) (MMA, 2022; Bernard et al., 2023d).
Comentários: É uma espécie descrita recentemente (Moratelli et al., 2011) e vem sendo confundida com outras espécies de Myotis (Bernard et al., 2023d). Há pouca informação sobre sua biologia e história natural. É uma espécie insetívora aérea que captura suas presas em voo, próximas a corpos d'água e clareiras na vegetação (Bernard et al., 2023d). Em um estudo de longa duração na Ilha Grande, apenas um indivíduo foi registrado, sendo apenas 0,04% do total de capturas (Costa et al., 2021a). Fragmentação e perda de habitat na Mata Atlântica é o principal impacto para a espécie, contudo, porém não corre risco de extinção em um futuro próximo (Bernard et al., 2023d).
Myotis nigricans (Schinz, 1821)
Foto: Roberto Leonan Morim Novaes
https://morcegosdobrasil.blogspot.com
Distribuição: Recentemente, foi publicado um estudo que propõe que Myotis nigricans seja uma espécie monotípa, ocorrendo exclusivamente na Mata Atlântica sul-americana, e que as populações de outras ecorregiões devem ter seu status taxonômico revisado em estudos futuros (Novaes et al., 2024).
Estado de conservação: Myotis nigricans está clasificada como Pouco Preocupante (LC) pela Red List of Threatened Species (IUCN, 2024) no Brasil (MMA, 2022; Bernard et al., 2023e).
Comentários: Atualmente, o gênero está sendo revisado taxonomicamente, com as ocorrências no Brasil sendo reanalizadas. As revisões conduzidas por Ricardo Moratelli e colaboradores indicam que Myotis nigricans é um complexo de espécies crípticas, contendo várias linhagens evolutivas independentes ainda não descritas (Bernard et al., 2023e). Em estudo de longa duração na Ilha Grande, 46 indivíduos foram registrados, dos quais apenas 1,6% do total de capturas (Costa et al., 2021a). É classificada como insetívora aérea (Bianconi & Pedro, 2007) e foram detectadas sementes nas fezes de M. nigricans da Mata Atlântica no sudeste do Brasil, que sugere alimentação de frutos (Novaes et al., 2015).